Diário de Bordo - Sérgio

 

25/05/2006

Hoje o sol deu as caras e amanheceu um belo dia. Rapidamente fizemos nossas coisas, tomamos nosso café da manhã e saímos para passear. Conseguimos ir até o Forte São Mateus e gostamos muito. Ele foi muito bem restaurado e é um belo cartão de visita da cidade. A vista ao redor dele é maravilhosa. Fiz várias fotos e então descemos para a praia. Tomei um banho de mar, mas o Jonas e a Carol não quiseram entrar na água. Tomamos sorvetes de graviola, açaí e cupuaçu, aproveitando para provar novos sabores de cada lugar. Saímos então caminhando paralelamente ao canal de Itajuru, indo até o belo Largo São Benedito. Ele nos lembrou demais a cidade de Parati. Continuamos caminhando seguindo o canal e vimos algumas praias, o terminal de barcos de passeio e um Boulevard interessante. Após um rápido lanche, fomos até a Casa dos 500 Anos, que funciona como Casa da Cultura de Cabo Frio. Havia várias maquetes da cidade e reproduções de mapas antigos no local e as crianças gostaram muito. As maquetes estavam muito bem feitas e reproduziam os pontos turísticos da cidade como eram originalmente. O Jonas ficou louco com elas e começou a imaginar como fizeram cada coisa. Várias fotos antigas da cidade compunham o restante do acervo e deu para ter uma idéia do trabalho de restauração de certos lugares que apareciam totalmente detonados nas fotos. De lá fomos até a rodoviária, passamos na fonte do Itajuru e na bela igreja Nossa Senhora d’Assumpção. Aproveitei para comprar umas espumas para ver se acabo com o vazamento pelas gaiutas nas travessias e compramos algumas coisas de mercado. Como os mercados são longe do clube, sempre que saímos procuramos trazer algumas coisinhas que faltam para não precisar carregar tudo de uma vez. Retornamos andando até a marina e, com as pernas doendo de tanto andar, tomamos um delicioso banho quente no clube. Após um risoto de linguiça e cenoura com salada de tomate para o jantar, as crianças estudaram e eu recortei e instalei as espumas. Acho que conseguimos ver todos os pontos turísticos de Cabo Frio e, além disso, treinar um bocado para nossas “andanças” daqui para a frente.

 

26/05/2006

Após um começo de dia meio nublado, logo as nuvens sumiram e o céu ficou completamente azul. O nordeste está batendo com média intensidade, sem criar problemas e trazendo bom tempo. Aproveitei a manhã para abastecer de água e diesel. Completamos o tanque principal de combustível e enchemos todos os galões reservas. O total é cem litros de diesel o que deve dar bem para andar alguns dias por Búzios e chegar até Vitória (apesar de eu ter esperanças de ir velejando, mas como diz o Dimitri, nesse trecho não podemos “dar mole não”). Aproveitei também para esticar a correia do alternador e limpar a vela do motor de popa (as crianças olharam para aprender e ajudaram). Depois fomos passear na praia. Andamos uns dois quilômetros e meio até algumas dunas altas. Nos disseram para não passar daquele ponto pois há muitos assaltos na praia dali para frente. Subimos nas dunas e, enquanto eu dava uma cochilada no alto de uma delas (que tinha uma vista maravilhosa!), as crianças brincavam na areia dela. Descemos para a praia e eu tirei outra cochilada enquanto as crianças brincavam na água com duas meninas. Tenho andado cansado e foi bom dar essa repousada hoje. Tomei um banho de mar e só aí fiquei mais disposto. O mar de Cabo Frio nos surpreendeu positivamente. Acho que pegamos uma época em que ele não é “tão” frio, pois até o Jonas tomou banho de mar sem reclamar (ele odeia água fria!). Retornando para a marina procuramos uma padaria, pois eu estava “seco” por um café com leite e pãozinho de padaria com manteiga (e como estava gostoso!). Achamos uma e lá as crianças assistiram um pedaço do filme “Tubarão”. Retornamos à marina e lá estavam assistindo o mesmo filme, então eles viram o final. Ainda bem que as piores cenas eles não viram, pois acho que iam ficar com medo de entrar na água. Tomamos um bom banho e fomos para o barco estudar e jantar.

 

27/05/2006

Acordei de madrugada com a Carol e fizemos uma caminhada de 40 minutos até a rodoviária para pegar a Lu que estava chegando. O ônibus chegou na hora e pegamos um táxi para voltar à marina. Voltamos pela orla para que ela pudesse ver o lindo litoral de Cabo Frio. Chegando no barco, aproveitamos para tomar um bom café da manhã e descansar um pouco, enquanto as crianças brincavam com os vários presentes de aniversário da Carol que ela trouxe de várias pessoas. Quando acordei, despedi-me dos ultra-atenciosos funcionários da sub-sede do ICRJ e do Carlão, gerente da sub-sede e agradeci a nossa estadia. Soltamos as amarras e rumamos diretamente para a praia do Forno em Arraial do Cabo. A Lu acordou no meio do caminho e curtimos uma boa velejada com vento favorável até lá, aproveitando para mostrar para ela os maravilhosos lugares do lindo litoral. Chegamos lá, ancoramos e já fomos todos para a água. Pegamos o bote, fomos para a praia e logo eu e a Lu fomos até Arraial pela trilha para que ela pudesse ver a linda paisagem do lugar e também para comprar lulas para pescar, pois queríamos comer peixe. Em Arraial encontramos o Claudinei, batemos um rápido papo e tive o prazer de ver o mastro do Tikii praticamente pronto (só falta pintar). Retornamos para a praia do Forno e fomos para o barco. O único problema dessa praia é que, nesta época, o sol se esconde atrás do morro às 15:30 hs. Chegando no barco fomos pescar. Pegamos cinco cocorocas e um cação-viola (a Lu foi a que mais pegou!), que foi solto pois estava mais para “cavaquinho” do que para “viola”. Fizemos um peixe frito com risoto de lula que estavam maravilhosos. O Moara e o Tikii vieram ancorar próximos a nós. Fomos dormir cedo, pois estávamos todos cansados.

 

28/05/2006

Outro dia muito bonito! Logo que levantamos, não muito cedo, tomei um banho de mar e fiz o café da manhã. Quando estávamos acabando o café, apareceu o Fernando do Estrela-D’Alva de caiaque, que tinha ficado de vir nos encontrar. Conversamos um pouco e pouco tempo depois, o Edélcio e a Carla, sua namorada, vieram até o nosso barco conhecer o Fandanguinho e nos convidar para o almoço. Acho que tomaram um susto, pois estava uma zona só! Convidaram-nos para comer um peixe em seu barco mais tarde. Após um bom papo com eles, era hora de mergulhar. Fomos até o bar flutuante que há no costão esquerdo da praia do Forno e logo caímos na água. Estava fria e o Jonas logo voltou para o bote. Vimos vários peixes, duas tartarugas e os restos de alguma embarcação que afundou ali. O bar estava abarrotado de gente e de barcos. Ficamos enquanto agüentamos o frio e então retornamos ao barco. Fiz um macarrão com atum para completar o almoço e fomos para o Tikii. Almoçamos um excelente peixe na brasa, contando estórias e com a Carol provocando o Edélcio e vice-versa. Foi engraçado! No final de tarde retornamos ao Fandango para que eles pudessem sair logo, pois o Tikii ainda estava sem as luzes de navegação. Ficamos na paz do início da noite cheia de estrelas e as 8 já estávamos na cama.

 

29/05/2006

Acordamos cedo para aproveitar outro maravilhoso dia! A Lu é sempre “pé-quente”! Logo tomamos café e fomos para a praia. Como era segunda-feira, a praia estava quase vazia. A linda cor do mar nos convidou a fazer um mergulho e este, fora um caçador submarino novato que não saia de perto de nós, foi bonito. Vimos uma moréia, um peixe-cofre, um trombeta e vários outros numa água clara. O frio não nos deixou ficar mais e retornamos ao calor do sol na praia. Quando estávamos para voltar para o barco, o Jonas estressou com “o mar”, que derrubava todos os castelos de areia que ele fazia (a maré estava subindo!). Sobrou para todo mundo. Logo voltamos ao barco, pois a Lu tinha que pegar o ônibus em Cabo Frio. Arrumamos as coisas, ligamos o motor e voltamos com ele para chegar antes de escurecer, pois o vento estava fraco e por trás. Aproveitando o lindo pôr-de-sol, entramos no estreito canal e paramos novamente na sub-sede do ICRJ. Saímos correndo do barco e ainda conseguimos pegar o forte aberto para mostrá-lo à Lu. Estava anoitecendo, o sol já havia se posto e a vista estava maravilhosa! Voltamos ao barco para tomarmos banho e para a Lu arrumar a mala. Fizemos uma sopa, chamamos um táxi e fomos para a rodoviária. Despedimos da Lu (chuiff!) e aproveitamos um mercado aberto que havia ao lado da rodoviária e já compramos as coisas que faltavam para seguirmos para Búzios. Foi ótimo, pois adiantei as coisas para sair cedo amanhã e economizei um táxi.Chegamos cansados no barco, arrumamos as compras, ainda fiz uma redinha para frutas e fomos dormir bem cansados.

 

30/05/2006

Acordei cedo e a primeira coisa que fiz foi ler um artigo na revista Velejar e Meio Ambiente sobre um barco que está saindo para viajar e provavelmente encontraremos no caminho: o Beduína. O barco é muito bonito e o conforto é grande. Eles estarão iniciando viagem em julho e estarão fazendo charter’s ao longo da viagem. Pouco depois fui puxar e-mail’s e recebemos uma notícia muito triste: perdemos a companhia da pequena/grande navegadora Kat Schurmann. Ela foi velejar por outros mares, para os quais nós todos iremos algum dia. Isso me abateu bastante e às crianças também, mesmo sabendo que os poucos anos de vida de Kat valeram por uma vida inteira (poucas pessoas viveram as experiências que ela viveu), em função do amor, carinho e conhecimentos que seus pais espirituais Vilfredo e Heloísa conseguiram lhe proporcionar. A ela só podemos desejar bons ventos nesse novo oceano, sabendo que um dia ainda haveremos de nos cruzar todos nós nessa viagem sem fim. Aos pais e irmãos, nossos sentimentos, mas também os parabéns por tanto carinho, amor e dedicação que sempre testemunhamos para com ela.

Essa foi a tônica do nosso dia. Tomamos café tristes, saímos com destino à Búzios, mas o mar e vento forte contrários e a forte lembrança de como o nordeste aperta mais tarde fizeram-nos mudar de planos. Voltamos para Arraial do Cabo numa ótima velejada, onde não havíamos conseguido ver o Museu Oceanográfico da Marinha, e descemos para terra. Almoçamos, fomos ao museu, que vale a pena e tem um esqueleto de orca montado, além de outras curiosidades. Voltando ao barco paramos no Tikii, onde tomamos um café e conversamos um pouco. Final de dia, voltamos ao barco para fazer os diários atrasados, jantar e responder e-mail’s, sob o sopro forte do nordeste. Não senti muita segurança de dormir com uma âncora só, pois deu a impressão que tínhamos garrado um pouco e então levantamos a âncora principal e amarrei na corrente, pouco acima da âncora um cabo com nossa âncora fortress de alumínio (idéia do Dimitri). Descemos o conjunto e funcionou maravilhosamente bem, deixando o barco bem firme ao fundo. Vamos ver amanhã se será difícil levantá-las.

 

31/05/2006

A noite foi meio agitada, com o vento nordeste zunindo no estaiamento grande parte da noite e os barcos que chegavam no porto fazendo barulho e passando bem perto do Fandango, em virtude de estarmos ancorados na frente do porto. Acordei um pouco tarde devido à noite mal dormida, mas logo estávamos fazendo o café da manhã e nossos respectivos diários. Pensava em ir para Búzios hoje, mas o nordeste que ainda soprava e o belo dia para aproveitar a praia do Forno me fizeram mudar de idéia. Fomos até a cidade fazer um favor para a Denise do trawler Jade e aproveitei para comprar arrumar meu óculos, do qual havia caído uma peça. Retornamos ao píer, comprei lulas para pescar e ajudei o Claudinei e o Edélcio a instalarem dois softwares. Conversamos mais um pouco e, enquanto o Edélcio voltava para a pintura do mastro, nós fomos para o Fandango. Levantamos âncora, tendo sido muito fácil levantar a Bruce com a Fortress, e fomos para a praia do Forno. Ancoramos tranqüilamente no meio da enseada e começamos a pescar. No começo só pegamos alguns pequenos peixes, que soltamos. Limpei a lula toda e separei uma parte para comermos, que já deixei cortada e temperada. Voltamos a pescar e peguei um cangulo todo colorido, que fiquei com pena de matar. Peguei algumas cocorocas que soltei (já havia lula suficiente para comermos) e depois peguei mais um cangulo colorido bem grande, que deu muita emoção para sair da água. O Jonas e a Carol tomaram banho e o Jonas falou que queria fazer o arroz. Enquanto eu pescava tranqüilo (estava pescando um peixe atrás do outro), o Jonas fazia o arroz e a Carol acabava seu diário de ontem. Tomei um banho enquanto a Carol pegava mais três cocorocas e depois fiz a lula a provençal. O risoto do Jonas, incrementado com cenoura, estragão e açafrão, ficou ótimo e acompanhou maravilhosamente a lula a provençal. A sobremesa foi chocolate e bolachas com doce de leite. Os peixes pescados (foram uns quinze ao todo) e que foram soltos não fizeram falta no gostoso jantar. Demos uma arrumada no barco e, após os estudos lemos um pouco de “Do Rio à Polinésia” e dormimos cedo para sair ao amanhecer para Búzios.

 

01/06/2006

Durante a noite entrou uma frente fria que eu já esperava e o barco balançou um pouco. Como acordei algumas vezes para ver se estávamos firmes, não consegui acordar de madrugada como eu queria. Mas foi bom, pois o sudoeste diminuiu um pouco e parou de garoar. Levantamos às 8:30 hs e saímos às 9:00 hs, depois de arrumar tudo para a saída. Ninguém quis tomar café e deixamos para fazê-lo ao longo do caminho. O sudoeste já estava mais tranqüilo e aos poucos fomos deixando Arraial do Cabo, que adoramos e para onde pretendemos retornar algum dia. Assim que passamos a ilha dos Porcos desligamos o motor. Quando saímos da proteção da ilha de Cabo Frio, as ondas começaram a aumentar fazendo o barco balançar bastante e, algum tempo depois, o vento começou a aumentar. Como íamos com o vento em popa rasa, experimentei fazer uma coisa que o amigo Jadir Serra, velejador experimentadíssimo, havia me ensinado: abrir só a genoa e ir sem a vela mestra. Como o vento era forte, o jibe involuntário deixou de ser um problema, pois a retranca estava travada no meio e a mestra abaixada. Como o centro vélico estava deslocado para a frente, o leme ia sempre leve e o barco nunca ameaçava atravessar. Ao mesmo tempo, sem a mestra para fazer “sombra”, a genoa ia cheia e velejávamos muito bem, com ondas de dois metros nos empurrando. O vento não passou da casa dos 25 nós e o Fandango velejava numa média de 6 nós de velocidade, surfando muitas ondas e arrastando o botinho. Não colocamos o “Alfredo” para trabalhar, pois a velejada estava muito gostosa. Os problemas se resumiam a alguma onda maior que entrava de lado e às vezes tínhamos que corrigir o rumo. Não sei como o Alfredo vai se comportar nesses casos. Fizemos uma ótima viagem e, apesar do vento forte e ondas altas (mais ou menos o que pegamos na cara quando fomos do Rio para Cabo Frio), o convés todo se manteve seco praticamente todo o caminho (só houve respingos uma ou duas vezes e, mesmo assim, na passagem lateral, não atingindo o cockpit). As crianças ficaram brincando o tempo todo e fizemos uma boquinha no meio do caminho. Chegando no Cabo Búzios, logo começamos a ver as lindas casas e praias do local. Passamos pela perigosa, mas bem visível laje do Criminoso e ao lado da Ilha Branca. Quando contornamos a Ponta do Cavalo Ruço, o sudoeste que nos empurrava começou a passar por cima de Búzios e entrou na cara. Ligamos o motor e percorremos os últimos 500 metros com ele. Chegamos à uma hora da tarde na frente da Praia dos Ossos depois de uma excelente velejada. Tentei ligar várias vezes para o Luís e o Rodrigo (Grilo) que alugam poitas no local, mas os telefones não atendiam. Resolvemos ancorar e ligar mais tarde. Apesar do sudoeste um pouco forte, ancoramos bem (o fundo do lugar é ótimo!), almoçamos no barco e aproveitei para tirar uma soneca, enquanto as crianças faziam uma “carta náutica”. Dormi uma hora e meia e, assim que acordei, pegamos o bote, motor de popa e fomos até a Praia dos Ossos. Perguntamos, mas não encontramos o Luís e o Grilo. Nos falaram para ir até a praia da Armação, que fica ao lado, e passamos pela linda igrejinha na ponta do morro. Lá também não achamos os dois, mas nos falaram para voltar para a praia dos Ossos e procurar no “Bar da Corrente”. Finalmente, conseguimos achar o Grilo e ele nos indicou uma poita, no meio de várias escunas, para ficar. Voltamos para o barco, tomando um banho de mar com as marolas do sudoeste nos lavando, pegamos o Fandango, levamo-lo para a poita e, como já estava anoitecendo, resolvemos ficar no barco. As crianças foram estudar e eu comecei a preparar um bom jantar: risoto de carne seca com ervilhas. No final da noite lemos “Do Rio à Polinésia” e dormimos cedo, para conhecer Búzios amanhã, com o sudoeste ainda soprando forte.

 

02/06/2006

Acordei com uma garoa caindo e deixei as crianças dormirem mais, segurando um pouco a ansiedade de conhecer Búzios. Logo eles acordaram e tomamos nosso café da manhã, fazendo os diários a seguir. Quando acabávamos o café da manhã, o Grilo veio nos falar para mudar para outra poita, mais perto da praia. Ele tentou aumentar o preço da diária da poita, que o Dadi me falou ser R$ 15,00 para R$ 25,00. Quando falamos, com jeitinho, que iríamos ficar ancorados então, ele voltou atrás e deixou por R$ 15,00 (em cidade de muito fluxo turístico temos que ficar espertos). Engraçado é a forma como eles amarram a poita aqui: existem sempre dois cabos, com duas poitas ou uma poita e uma âncora bem grande. Um dos cabos, chamado de cabo de sudoeste, é o que ficará mais tensionado quando o vento sopra de sudoeste. O outro é o cabo de nordeste, que ficará mais tensionado quando o vento entra por nordeste. No final das contas, os dois cabos acabam trabalhando sempre, limitando o giro do barco. Assim, pode-se ter mais barcos em menos espaço. O engraçado é que o vento parece soprar apenas dessas duas direções, senão o barco giraria 360 graus causando o maior “salseiro”. Amarrado o barco, que ficou bem próximo à praia, descemos de bote a remo e deixamos o bote amarrado na praia. Ontem vimos vários botes, inclusive com motor, e o Grilo falou que de dia não há problema. Saímos caminhando para a direita, indo até o final da praia dos Ossos e pegando uma trilha. Rapidamente estávamos nas praias Azeda e Azedinha, que são muito bonitas. Voltamos e fomos pela rua da corrente, que fecha o acesso aos carros na praia dos Ossos e demos numa praça. Lá, bem perto do barco, havia um mercadinho e vários comércios. Fui procurar um mapa da cidade e um sebo no meio da praça me vendeu um mapa por um real. Mais tarde fiquei sabendo que o mapa é de distribuição gratuita. Fugi de um golpe, entrei em outro! Fomos caminhando pela rua principal até chegar no centro: a famosa Rua das Pedras. Fomos andando pela sucessão de lojas, que me lembraram muito a Vila de Ilhabela, só que muito maior e com muitas lojas fechadas. Já havia escutado falar que muitos dos comércios voltados ao turista só funcionam no verão. Cruzamos com vários turistas estrangeiros (muitos italianos) passeando pelo local e uma criança do local, com uniforme de escola, tentou falar em inglês com o Jonas. Depois ficamos tirando o sarro dele, falando que ele tinha cara de “gringo”. Andamos bastante, ziguezagueando entre as ruas para tentar conhecer tudo. Descobri o que era mais importante para mim (mercados e banco 24 horas) e fomos conhecendo o lindo lugar até bater uma fominha. Procuramos lugar para comer e vimos que aqui é muito parecido com Ilhabela: restaurantes para o turista muito caros e alguns poucos restaurantes para os “locais” com preço acessível. Acabamos achando uma casa de empanados e fui levar as crianças para conhecer essa delícia, que eu conheci há muitos anos no Chile. Eles estavam maravilhosos e pretendemos retornar lá. Fui procurar um mercado grande, mas o que eu encontrei foi uma decepção: tem tudo, mas é tão caro (ou até mais) do que os mercados pequenos. Ainda bem que estamos bem abastecidos e só precisaremos comprar perecíveis. Voltando pelo lugar, que dá a impressão de “fervilhar” na temporada (ainda bem que viemos fora dela), voltamos caminhando pela orla e aproveitamos para tirar as tradicionais fotos das estátuas dos pescadores, da estátua da Brigitte Bardot, da estátua do Juscelino Kubitchek e de algumas “jangadas”, que estão ali para passeios, mas que só tem uso turístico. Retornamos ao Fandango, onde começamos uma aula de inglês diferente. As crianças ganharam um jogo da tia com as instruções em inglês e ela não havia conseguido entender o jogo. Li as instruções, entendi, mas fiz as crianças traduzirem-no sozinhas. O que elas não tinha aprendido fui ensinando aos poucos. Demorou três horas, entre as quais jantamos, mas eles traduziram todas as instruções e acabamos a noite com várias partidas do jogo, que é bem interessante (é um jogo de cartas que lembra um pouco o Uno ou o antigo “Mau-Mau”). Fazia frio mas, com o barco todo fechado, estávamos muito confortáveis. O vento nordeste já soprando promete um dia bonito amanhã.

 

03/06/2006

Às cinco horas da manhã acordei e não consegui dormir mais. Então, peguei o computador e comecei a fazer vários trabalhos no site. Depois de “trabalhar” bastante, resolvi fazer umas panquecas para o café da manhã. A receita foi enviada um garoto de São Sebastião chamado Philipp, com o qual nos correspondemos. Alterei um pouquinho a receita para fazer panquecas salgadas e, quando a primeira estava pronta, chamei as crianças. O efeito foi imediato e logo os dois estavam sentados com os pratos no colo experimentando as panquecas. Cada um colocava o recheio que queria. Comemos duas panquecas salgadas e uma doce cada um! Enquanto eles faziam diários, aproveitei para fazer pequenas coisas no barco: mudei as redes de frutas e legumes para um lugar que atrapalhe menos, mudei várias coisas para a proa para liberar mais espaço para nós e coloquei dois ganchos definitivos (estavam usando os do traveler) para segurar o dodger (dog-house). Descemos em terra e fomos passear. Fomos a pé até a praia de João Fernandes, que é bonita e cheia de restaurantes e turistas estrangeiros. Conforme íamos andando pela praia, os ambulantes tentavam nos vender coisas falando conosco em castelhano. Quase tudo que estava escrito nos restaurantes era escrito em castelhano. Dá para se sentir fora do Brasil e até top-less na praia havia. Resolvemos ver o mirante que o guia falava e fomos subindo uma grande ladeira. A cada passo olhávamos para trás e tudo ficava mais bonito. Chegando no mirante, conseguíamos ver tudo ao redor, inclusive as ilhas pelas quais passamos na vinda e o Fandango do outro lado! Os planos eram ir até praia Brava a pé, mas as crianças começaram a reclamar da caminhada e tiveram sorte, pois um casal muito simpático (o Tales e a Caroline) nos ofereceram uma carona. Eles logo aceitaram. Notei que o pessoal não gosta muito de caminhar por aqui, a não ser na Rua das Pedras! Aproveitando a carona deixamos a praia Brava para outro dia e seguimos para o centro. Comemos mais empanados e fomos voltando tranqüilamente para o barco, aproveitando para comprar algumas coisinhas que precisávamos, inclusive um pouco de camarão para o jantar. Chegando no barco as crianças estudaram enquanto eu passava os diários deles para o computador e depois fiz o jantar: macarrão com molho de camarão. Ficou ótimo e todos gostamos! Falei com a Lu pelo Skype e fomos jogar um pouco o joguinho de carta deles (Zigity) antes de dormir. Enquanto estávamos jogando, a Carol deu um grito e eu vi o gurupés de uma grande escuna que estava atrás de nós raspando no estai de popa. Corri para afastar os barcos, mas o Fandango já se desvencilhava sozinho. Tivemos sorte que o estai não prendeu em nada. Comecei a observar a escuna e ela estava parecendo um cavalo chucro na poita. O Fandango também estava assim, em virtude das rajadas de vento que entravam. Mais uma vez ela se aproximou perigosamente. Fui até a proa e cacei bem o cabo para nos afastarmos um pouco da escuna. Soltei o estai de popa (que sustenta o mastro do Fandango a ré são as cruzetas anguladas) e o amarrei à escota da mestra. Passou uns minutos, novamente aquele gurupés avançava como um aríete contra o indefeso Fandanguinho e desta vez o alvo era nossa antena de VHF que fica num suporte na popa. Graças à flexibilidade da antena ela não foi arrancada e nós achamos que não estávamos seguros. Com tudo escuro, ligamos o motor, soltamos a poita com todo cuidado para não pegarmos o nosso próprio cabo no hélice e fomos saindo devagar e com muito cuidado, pois existem muitos cabos soltos flutuando no local. A escuna ainda avançava, mas desta vez já não tinha nada para atacar. Nos encaminhamos devagar para o primeiro local nosso de ancoragem. O vento já havia virado para nordeste e isso faz com que entre muitas marolas de lado no local. Bem ancorados e com bastante cabo, jogamos mais um pouco e fomos descansar, com o barco balançando muito e o vento zunindo no estaiamento.

 

04/06/2006

A noite não foi boa. Acordei diversas vezes para verificar se estávamos firme e o barco balançava bastante. Meu alarme de muito vento (a adriça da mestra que fica batendo no mastro quando venta muito e que eu não prendo de propósito para que isso aconteça) tocou a noite toda praticamente. Já as crianças dormiram maravilhosamente bem (como é bom não ter preocupações e ter um “grande berço” para nos embalar!). Mesmo com as marolas e o nordeste forte, que deve ter soprado uns 20 nós, o barco não saiu do lugar. Fiz meu diário e desci à terra para procurar o Grilo. Fui até a sua casa e ele logo veio para nos indicar outra poita, com duas escunas de lado, mas com mais espaço. Fizemos nosso café da manhã (mais uma rodada de panquecas) e nossos diários. Acessei a internet e vi uma previsão de janela de tempo para subir a partir de terça-feira. Fiquei animado! Quando íamos sair do barco, estávamos quase batendo com uma das escunas! Cacei mais os cabos de poita do Fandango e ficamos mais afastados. Fomos até a rua das Pedras e passeamos por lá. Fiquei mais tranqüilo quando vi a escuna que quase bateu no Fandango navegando na frente do centro. Almoçamos num restaurante por quilo e o Jonas comprou uma garrafa de refrigerante para fazer um barquinho. Voltamos para o Fandango passeando tranqüilamente, aproveitando um maravilhoso pôr-do-sol. Chegamos na praia, pegamos o bote e quando íamos para o Fandango, o vimos girando para bater na escuna novamente. Uma pessoa na escuna segurou o barco para não baterem. Quando chegamos perto, ele se apresentou: era o Luís, irmão do Grilo e dono das poitas. Logo ele arrumou uma âncora pesada e a baixou alguns metros atrás do Fandango. Amarramos a popa de nosso barco no cabo da âncora e acabou-se o problema. As crianças ficaram fazendo barquinhos com sucata, jogamos Zigity e fomos dormir cedo para recuperar o sono da noite anterior mal-dormida.

 

05/06/2006

Acordamos cedo para passear por Búzios. Após tomarmos um café rápido, pegamos o bote e estávamos para ir para a praia quando o Jonas viu que o cabo da âncora que havíamos colocado na popa tinha enroscado na porta de leme do Fandango. Peguei a máscara de mergulho e fui tomar um banho forçado. Desenrosquei o cabo e lançamos a “âncora” (na verdade era uma garatéia para roçar fundo) mais longe. Fomos até a Buggy Car e alugamos com o simpático Walter um lindo buggy azul. Foi engraçado dirigir um carro novamente depois de tanto tempo. O primeiro lugar que fomos foi para o posto de gasolina. Colocado combustível, seguimos para a praia do Forno. Nos impressionamos com as ondas que arrebentavam na praia e nos costões. Havia uma bela ressaca no mar. Lembrei de uns versinhos que há na administração náutica do ICRJ, que falam que “com o homem tem que tomar cuidado quando está bêbado e com o mar quando está de ressaca”. A praia é muito bonita e tem a areia bem vermelha (eu nunca havia visto uma praia com a areia tão vermelha antes). Em seguida fomos para Geribá e lá estava do mesmo jeito. Pena não dar para tomar banho, mas não podemos negar que há uma beleza especial no mar bravio (principalmente quando estamos seguros em terra – rsrsrs). Fomos para um canto da praia onde havia uma quantidade enorme de mariscos que foram arrancados das pedras pela ressaca (um pescador nos disse que ontem o mar estava muito pior, com ondas do dobro do tamanho das de hoje – muito grandes por sinal). Lá começamos a achar muitas conchas e entre elas lindos búzios (fazendo jus ao nome do local). Andamos um pouco pela praia e resolvemos conhecer a praia da Ferradura. Lá a situação estava parecida, mas a praia é bem mais protegida. Em compensação, a entrada da barra mostrava ondas estourando que subiam mais de 10 metros de altura ao quebrarem nas pedras. Gostei muito de Ferradura e as casas me lembraram muito Ilhabela. Andamos pela praia toda, curtindo o lindo visual do lugar. Quando retornamos ao buggy para seguir para outra praia, a surpresa: o pneu estava no chão. Liguei para a locadora do veículo e já me preparava psicologicamente para uma espera demora, tomando um banho de mar tranqüilo, quando o pessoal da locadora logo chegou: só tivemos que esperar 10 minutos entre avisá-los e o pneu estar trocado. Os buggy’s são ótimos e o serviço é de primeira. Saímos de novo com destino à praia da Tartaruga. Em virtude dela estar do lado norte do cabo, o mar estava bem calmo. A praia não tem casas, mas tem vários barzinhos ao longo dela e, pelo jeito, as escunas param todas por ali. A praia é muito bonita e o sol gostoso que fazia me fez tirar uma gostosa soneca despreocupada de uma hora na praia. Ao acordar, tomamos um banho de mar, brincamos um pouco e voltamos para o buggy. Acho que a praia que mais gostei foi a das Tartarugas, mas como fomos num dia ruim de praia nas outras, acho que terei que voltar para vê-las num dia calmo. Devolvemos o buggy, aproveitamos o lindíssimo pôr-do-sol (acho que foi um dos mais bonitos que eu já vi), comemos uma pizza e fizemos compras no mercado. Quando chegamos na praia, vi o bote murcho e fui enchê-lo. Logo escutei um barulho de vazamento. Acho que amanhã terei que dar uma olhada na válvula. Quando chegamos no Fandango, outra surpresa ruim: um buraco de uns 4 cm de comprimento por 2 cm de largura no espelho de popa do barco, provavelmente feito por uma peça de metal da popa do veleiro que está ao lado! Amanhã terei que improvisar um remendo, até esperar um lugar para fazer o conserto final. Ia ser difícil sair incólume daqui. Recomendo a quem quiser subir a costa, pensar em sair de Arraial do Cabo, que eu achei mais protegido para esperar do que aqui em Búzios. De Arraial pode-se vir passear em Búzios por via terrestre, mas ficar de barco aqui é muito ruim. Fizemos então nossos diários, as crianças estudaram e jogamos um pouco de Zigity. Hoje foi um dia estranho: paradoxo entre o mar com ressaca das praias do lado sul e o mar calmo da praia das Tartarugas e paradoxo entre o lindo pôr-do-sol e a tristeza por ver o guerreiro Fandango ferido.

 

06/06/2006

Ontem eu havia decidido não ir para Guarapari por causa da ressaca e iria ficar mais uns dias em Búzios esperando outra frente fria. Em virtude do buraco no Fandango ontem a noite e de eu haver acordado às 4 horas da manhã e ter visto uma outra escuna quase “pescando” o estai de popa do Fandango, mudei de idéia. O rapaz (o Luís) tem duas poitas boas, mas, quando chegamos, uma estava ocupada e a outra havia soltado da bóia e afundado. Aí começou todo nosso problema, com ele nos colocando em poitas impróprias para barcos do tamanho e tipo do nosso. Acessei a internet e vi que havia uma janela de tempo certinha para a travessia se saíssemos cedo. Resolvi sair daquela “armadilha” da Praia dos Ossos ver como estava o mar aberto. Se o mar estivesse muito ruim, retornaríamos para Arraial do Cabo. Se estivesse bom, aproveitaríamos a janela de tempo e seguiríamos para Guarapari. Comecei a arrumar o barco logo após ter acessado a previsão de tempo e às seis horas eu soltava as amarras da poita, com as crianças ainda dormindo. Assim que saímos vi que as ondas não estavam tão altas assim lá fora. Aliás, só estavam um pouco maiores entre a Ilha Branca e a praia de João Fernandes. Fomos seguindo nosso caminho para Guarapari, cento e setenta milhas à nossa frente, passando pelo temível Cabo de São Tomé, com seu famoso banco de areia, que fica entre o cabo e as plataformas da bacia de Campos e, para piorar, com grande tráfego marítimo na região. Nosso outro tripulante, que havíamos convidado alguns dias antes, o Fernando do Estrela D’Alva, não pôde ser avisado a tempo para nossa saída, que foi de última hora, em virtude dos problemas que descrevemos acima. A Carol enjoou pouco depois de acordar e ir ao banheiro e ficou deitada o resto da viagem (na próxima ela vai tomar dramin). Eu e o Jonas fomos nos revezando na vigília e o “Alfredo” (nosso piloto automático, lembram?) foi levando o barco. Eu havia visto na previsão do “Buoy Weather” (muito boa, por sinal - acertou tudo até agora!) que o vento iria girando, mas seria favorável até as seis horas da tarde e às nove horas giraria contra para quem seguisse para o São Tomé. Saímos com o motor e o vento estava por trás e muito fraco, fazendo bater muito a mestra. A manhã estava linda e o mar bonito. Fomos nos afastando de Búzios e vimos vários pássaros no caminho. Prometi um sorvete para quem avistasse a primeira baleia. As duas da tarde o vento rondou e aumentou um pouco, permitindo que abríssemos as velas. Isso aumentou nossa média de velocidade, importante para passar logo o cabo. Vi alguns barcos de pesca na saída, mas depois eles desapareceram. Já os navios, também não foram tantos assim e sempre passaram distantes (eu estava seguindo a linha entre os 40 e 50 metros de profundidade). Apenas um passou perto, provavelmente vindo de Macaé e indo para as plataformas. Vimos ainda uns 4 helicópteros fazendo a mesma travessia Macaé-plataformas. As quatro e meia da tarde desligamos o motor e colocamos combustível, para que o tanque não ficasse baixo (não gosto de trabalhar com menos de meio tanque de combustível, para o pescador não puxar sujeiras ou ar, se o barco estiver balançando muito). Tudo correu muito bem e às 17:00 hs deixávamos para trás o farol de São Tomé, seguindo para a ponta do banco de areia, um pouco distantes dela. Presenciamos um pôr-do-sol muito belo (eu e o Jonas, pois a Carol estava dormindo). Quando estávamos quase chegando no way-point para Guarapari, o vento rondou na hora e para a direção que o Buoy Weather havia previsto. Avançamos até o way-point e guiamos 50 graus, ficando com o vento favorável novamente. Seguíamos um rumo quase norte puro, o que nos levava a ir diminuindo progressivamente de os graus de latitude (coisa que venho sonhando desde que os dias começaram a ficar mais frios e mais curtos!). O Jonas não agüentou e dormiu cedo. Fiquei sozinho então, em companhia da meia lua crescente e muito brilhante, das estrelas totalmente descobertas e dos navios e barcos que passavam. No trecho São Tomé-Guarapari apareceram vários barcos de pesca, mas muito menos do que lembro ter visto em 2002. Foi um trecho tranqüilo e, por isso, me deixou com muito sono.

 

07/06/2006

Após os pesqueiros logo depois do São Tomé, os barcos desapareceram totalmente. Continuei com motor e velas, para não arriscar chegar de noite em Guarapari. Vi um pôr-de-lua dos mais bonitos da minha vida. Ela foi descendo entre nuvens escuras e foi ficando alaranjada. Em certo momento, parecia o faiscante olho de um imenso dragão de nuvens, que a circundavam. O mar cinza chumbo completava o cenário, de um certo ponto, fantasmagórico, mas extremante belo. Logo a seguir as estrelas ficaram ainda mais brilhantes e, naquela escuridão completa, planetas e estrelas de primeira grandeza começavam a deixar seus rastros pelo mar, da mesma forma que a lua. O tempo foi passando, barcos não apareciam, eu conseguia vencer minha luta contra o sono (não sem grande esforço – o segredo é se mexer sempre e nunca se “encostar” confortavelmente em algum canto). O dia amanheceu e a Carol acordou, logo acordando o Jonas. Com isso, pude deixar o Jonas na vigília e fui dormir uma hora. Eles me disseram depois que viram um nascer-do-sol maravilhoso. Quando acordei, vi que estávamos adiantados e o vento estava favorável e forte o suficiente para uma gostosa velejada. Dessa forma, desligamos o motor e seguimos numa gostosa e silenciosa velejada. Algumas horas depois já chegávamos em Guarapari no Espírito Santo, completando nosso terceiro estado da viagem. No total foram 8 horas no motor, 17 horas com motor e vela e 5 horas velejando, num total de 30 horas e uma viagem muito boa e o vento virando sempre na hora certa. Lembrei do conselho do Dimitri antes de iniciar a viagem: “- Nesse trecho, deixe o orgulho de lado e coloque o motor para ajudar, pois se o vento virar antes de dobrar o São Tomé...” e o segui à risca. Quando chegamos à Guarapari, as aventuras ainda estavam longe de acabar. Fomos ancorar na praia da Cerca, para poder descansar e aproveitar uma praia quando vimos toda a enseada do Perocão sendo varrida por ondas. A ressaca que havia em Búzios também se apresentava por aqui. A praia, apesar de um pouco mais protegida, estava muito mexida e com muitas bóias brancas, que não sei do que é. Resolvi dar meia volta e procurar outro lugar. A ponta da praia do Morro, que também estava indicar como boa para fundeio também se apresentava ruim. Quando me encaminhava para o porto, que tinha que estar protegido, um sargento da Marinha do apoio marítimo da região entrou em contato conosco e pelo rádio e perguntou se éramos o Fandango! Foi muito bom saber que estavam preocupados conosco e que a Capitania dos Portos de Vitória estava atenta à nossa chegada. Eles me disseram que o porto tinha boas condições de atracação e para parar onde ficam as escunas. Entramos pelo estreito canal atentos a tudo e, antes da ponte, arranjamos uma vaga de uma escuna que está em manutenção. A moça que cuida das escunas e da locação foi muito simpática e disse que podíamos ficar a vontade. Ela já sabia que a Marinha nos aguardava e cedeu o local para ficarmos. Logo apareceram as pessoas da Marinha que haviam falado conosco pelo rádio para ver se chegamos bem e se estávamos bem instalados e para pedir que entrássemos em contato com a Capitania dos Portos de Vitória quando chegássemos lá. Agradecemos toda a atenção e só não os convidei para conhecer o barco, pois ele estava uma desordem total. Tentamos amarrar o barco firme, mas a correnteza forte fazia com que ele ficasse batendo no píer toda hora. Fizemos amarrações improvisadas com as defensas nos lugares que poderiam machucar o barco, arrumamos um pouco o barco e fomos almoçar. Encontramos um excelente restaurante de comida mineira por quilo bem próximo ao barco e fomos matar nossa fome de “comida” (não cozinhei no barco para a Carol não ficar mais enjoada e só ficamos comendo frutas, bolachas e chocolates). Adoramos o restaurante João-de-Barro e logo batemos um longo papo com os donos, um casal muito simpático e que conhecem Ilhabela. Voltamos ao barco para jogar uma âncora lateralmente, para mantê-lo longe do píer e isso não foi nada fácil, com a correnteza forte que havia naquele momento. Ainda bem que o Baiano nos ajudou nessa operação. Enquanto fazíamos isso, apareceu o Mauro, um velejador da cidade no píer e começamos a bater papo. Contamos da viagem e ele se ofereceu para qualquer ajuda que precisássemos (da mesma forma que o dono do restaurante). Saímos pela cidade para conhecê-la e encontramos tudo que precisávamos (supermercado com ótimos preços, diversos bancos 24 horas e lojas diversas – até um shopping com cinema!) bem perto de onde estávamos atracados. Passeamos até uma praia e sentamos num banquinho para descansar e ver a paisagem: ondas fortes quebrando nas pedras! (é muito melhor vê-las em terra firme). Voltamos ao barco para fazer os diários e estudar, para depois dormir gostosamente (nas últimas 41 horas eu dormi uma hora apenas). Adoramos a recepção em Guarapari: gente simpática, cidade hospitaleira e muitos cuidados para conosco de todos que conhecemos. E eu, que nem pretendia parar na cidade, dou a mão à palmatória e agradeço à ressaca (do mar!) que nos fez parar aqui! Conhecer as maravilhosas praias? Pode esperar.

 

08/06/2006

Após acordar e tomar nosso café da manhã, resolvemos ir tomar um banho de chuveiro. Pegamos nossas coisas e fomos perguntando até chegar na pousada Roma Antiga, bem próxima do porto, onde mediante uma pequena taxa pudemos tomar um delicioso banho de água doce. Normalmente tomamos os banhos de água do mar quando estamos em lugares paradisíacos, mas a água do porto não é muito limpa. Foi delicioso o banho com muita água corrente e quente! Tereza, que nos recebeu na pousada ofereceu-nos um café e deu uma série de dicas de passeio. Retornamos ao barco e pegamos as roupas para lavar. Passamos numa lavanderia próxima ao porto e deixamos as roupas para pegá-las amanhã. Saímos então passeando pela cidade. Primeiro fomos nas praias do centro, uma inclusive com areia monazítica, cuja areia preta não estava aparecendo ainda em virtude da ressaca. Fomos até uma capela construída em 1595 por ordem de José de Anchieta e em algumas ruínas próximas. Almoçamos e fomos até o aquário de Guarapari. O aquário é muito bem montado, com muitos peixes interessantes, ossos de baleias e golfinhos, aquário de toque e alguns tubarões, inclusive grandes tubarões-lixa (lambarus). Gostamos muito e acabamos tirando fotos ao lado de um grande tubarão branco (de mentira! - rsrsrs). Voltamos para o centro e fomos tomar um sorvete. Depois fomos ao mercado e aproveitamos o bom preço e a proximidade do mercado para abastecer o Fandango. Foi bom, porque já fizemos várias coisas que eu pretendia fazer em Vitória, onde as coisas são mais distantes e, talvez, mais caras. Retornamos ao barco para estudar e fazer nossas obrigações com as pernas doendo de tanto andar. Gostamos de Guarapari! Parece ser uma cidade tranqüila, ao menos durante o dia. Perguntei ao rapaz que nos ajudou a trazer as compras e ele falou para tomarmos cuidado se saíssemos à noite. Ainda bem que, o que curtimos mesmo nos lugares por onde passamos, acontece durante o dia.

 

09/06/2006

Acordei e comecei a digitar os diários das crianças para colocá-los na internet. Quando eles acordaram mais tarde, tomamos nosso café da manhã. Eu e o Jonas fomos até o posto de gasolina que fica ao lado do porto e compramos 40 litros de diesel. Perto do meio-dia, o Mauro, que havíamos conhecido quando chegamos em Guarapari, veio nos pegar de carro para almoçarmos. Conhecemos sua simpática esposa Cristina e fomos à um restaurante de comida mineira excelente. Almoçamos conversando bastante e tentando conhecer um pouco dos nossos novos amigos. Fanáticos por viagens, eles adoram camping e o Mauro está construindo um trailler (o “Kalunga”), em cima de uma carroceria de Furglaine. Falamos bastante de viagens e assistimos o jogo da Alemanha enquanto almoçávamos. Depois fomos para o apartamento deles, que fica de frente para o mar para ver o restante do jogo e comer deliciosos brigadeiros (que a Cristina ensinou-nos a fazer) e empadinhas. O Mauro nos mostrou sua oficina dentro do apartamento e depois descemos para ver o Kalunga. Ele conseguiu soluções ótimas para ter um confortável trailler e ele está mesmo reconstruindo-o todo por dentro! Até um banheiro, com box e tudo haverá no trailler. O teto ficou muito legal pois sobe, deixando-o com um pé direito muito bom dentro dele e ótima ventilação. Falamos bastante de vela e ele tem viajado bastante de veleiro também. Depois fomos ao Fandango, onde mostramos nossa casinha e conversamos mais um pouco. Eles assinaram nosso livro de visitas e nos despedimos já com saudades e planejando nos encontrar novamente em breve. Ofereceram para tomarmos banho em seu apartamento, mas estávamos cansados e não achei necessário. As crianças adoraram a Cristina e o Mauro e, com certeza, esses novos amigos já encontraram seu lugar em nossos corações. Quando eles se foram, fomos rapidamente na feirinha ao lado do porto. Retornamos ao barco para tomar uma gostosa sopa e fazer nossa principal tarefa de final de dia: estudo. Dormimos já sonhando com mais uma cidade a conhecer: amanhã provavelmente seguiremos para Vitória.